Velho ditado diz que o promotor é o inimigo íntimo do juiz. Essa afirmativa é obra do imaginário criativo, que aflui no ambiente de trabalho (no fórum), às vezes em tom de brincadeira e às vezes nem tanto. Na verdade, juiz e promotor, quando no exercício da função que lhes compete, chegam a divergir dentro do mesmo processo, dando uma interpretação diferente ao mesmo fato, o que a legislação permite. E mais ainda porque o juiz não está adstrito aos argumentos da acusação feita pelo promotor. Isso, às vezes, provoca um questionamento jurídico entre as partes, o que, no caso, carece da interferência das instâncias superiores, por vezes, indo encontrar a decisão definitiva no Supremo Tribunal Federal.
Mas, ninguém se engane, a figura do inimigo íntimo, de fato, existe. O inimigo íntimo é aquele que, como se amigo fosse, convive com a sua presa no dia a dia, beneficia-se de um pouco de tudo que o outro usufrui, mas sempre de olho no restante do bolo, que, poderia ser todo seu.
No âmbito do Poder Executivo, por exemplo, a gente pode facilmente identificar essa figura na pessoa do vice. Aliás, se existe algum vice que é amigo do titular, só se for o vice Presidente da República, o Michael Temer. A Dilma que o diga. Mas há exceções em tudo na vida.
Diga-me aí, você que está lendo isso: Quem danado se sente feliz com o cargo de vice, sabendo que o titular é tudo, e ele é apenas o vice? Pois bem, quem não acreditar no que estou dizendo (escrevendo) dê asas ao seu vice, e depois me diga pra onde ele voou, se sua vista ainda o alcançar. Espere deitado, que o seu vice esteja torcendo para que você acerte. A filosofia do vice é a seguinte: “Nunca interrompa o seu inimigo quando ele estiver seguindo o caminho errado”. E porque isso? Ora, quanto mais o titular errar, mais cresce a chance do vice ascender à titularidade, seja no âmbito da Justiça ou mesmo na própria política.
Mas o vice é uma peça muito importante na política. Tanto é que o anúncio do seu nome só acontece na undécima hora, salvo em casos especiais. E mesmo nos casos especiais, quando no início tudo “são flores”, não há a mínima garantia de que o escolhido, no futuro, não venha a se transformar em inimigo íntimo.
Por Sebastião Gerbase (Basinho)