
(Foto: Isaque Martins)
“Especialista explica por que funcionários mentem e como empresas podem reduzir esse comportamento”.
A mentira no ambiente corporativo é tão antiga quanto o próprio trabalho. Desde as primeiras civilizações, a falsificação de informações tem sido usada para evitar represálias, garantir vantagens ou simplesmente atender a exigências que parecem impossíveis. Mas se mentir pode ser visto como uma solução momentânea, as consequências a longo prazo costumam ser devastadoras tanto para os indivíduos quanto para as empresas.
Historicamente, algumas das maiores fraudes empresariais começaram com pequenas mentiras, até se tornarem grandes escândalos financeiros. Em menor escala, no dia a dia corporativo, a prática se manifesta na adulteração de dados, no exagero de resultados e até na omissão de informações críticas. Para Virgilio Marques dos Santos, especialista em gestão de carreiras e sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria, a pressão por metas irreais e o medo de retaliação são algumas das principais causas desse comportamento.
“Já vi muitas situações em que funcionários foram levados a mentir porque simplesmente não havia espaço para questionar objetivos irreais. Uma vez, quando argumentei que uma meta era impossível, ouvi apenas frases genéricas como ‘se dedicar mais’ e ‘usar tecnologia’. No fim, aceitei a meta sabendo que estava, de certa forma, mentindo para mim mesmo”, relata Santos.
A cultura corporativa também tem um papel central. Ambientes onde a contestação não é bem-vinda tendem a incentivar a falsificação de informações. Santos lembra de uma experiência em que apontou problemas estruturais em uma empresa e, em vez de ser ouvido, foi ignorado pela liderança intermediária. “Só quando o vice-presidente decidiu investigar pessoalmente ele percebeu que estava sendo enganado. O problema é que a maioria dos funcionários não se sente segura para falar a verdade, especialmente quando isso pode prejudicar suas carreiras“, analisa.
Além da cultura organizacional, os sistemas de recompensa também influenciam esse comportamento. Se um bônus é baseado em métricas fáceis de manipular, é provável que alguém tente fraudá-las. “Se um funcionário percebe que forjar números lhe traz vantagens e que os desvios não são punidos, a tendência é que o comportamento se perpetue”, alerta Santos.
Mas é possível criar ambientes onde a mentira seja desnecessária e desencorajada. Empresas como Google e Zappos se destacam por promover transparência, comunicação aberta e feedback constante. Segundo o especialista, qualquer organização pode reduzir a incidência de mentiras adotando políticas claras de ética, canais seguros para denúncias, treinamentos regulares sobre integridade e, principalmente, uma liderança que sirva de exemplo. “A honestidade no trabalho não é só uma questão de moralidade, mas de estratégia. Empresas que cultivam transparência constroem relações mais sólidas com funcionários e clientes, além de evitar crises desnecessárias”, conclui.
A longo prazo, a mentira pode parecer um atalho para o sucesso, mas os riscos são altos. Profissionais que valorizam a honestidade e constroem uma reputação baseada na transparência tendem a ter carreiras mais sólidas e respeitadas. No fim das contas, a verdade, apesar de desconfortável em alguns momentos, é sempre a melhor escolha.
Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, gestor de carreiras, PhD, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Autor do livro “Partiu Carreira“, TEDx Speaker, foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.