BRASÍLIA – As intensas articulações do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) nas últimas semanas para montar uma equipe de notáveis caso assuma a Presidência da República estão sendo mais difíceis que o esperado. Apesar das várias consultas feitas a economistas de várias correntes, como o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, Temer e seus aliados mais próximos não tiveram confirmações para a composição do núcleo duro do governo. A dificuldade do vice-presidente se complica ainda mais com a decisão da cúpula do PSDB de propor punição aos integrantes do partido que aceitarem integrar eventual governo do peemedebista.
A posição do PSDB de radicalizar punições e a crescente possibilidade de fechar questão contra a participação de seus quadros em um futuro governo complica a formação de uma equipe com nomes capazes de dar uma sinalização positiva ao mercado e de reverter uma expectativa negativa em relação a Temer. Além da gravidade do quadro econômico, há incerteza também sobre o desfecho do julgamento de impugnação do mandato do vice-presidente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A Executiva do PSDB se reúne na próxima terça-feira (26) para discutir se o senador José Serra (PSDB-SP), que vem conversando com Temer, ou outro tucano que venha a ser convidado para ocupar alguma pasta, devam se licenciar da legenda para não causar “conflito de interesse” e prejudicar o projeto do PSDB de disputar a Presidência em 2018. O senador também é cotado para a Saúde, pasta que já ocupou.
ENCONTRO COM MEIRELLES
Em Brasília, como presidente interino, Temer se encontrou neste sábado (23) com o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o ministro da economia dos sonhos do ex-presidente Lula. Após uma longa conversa com o vice nesta semana, Armínio Fraga prometeu ajudá-lo a formar sua equipe econômica, mas sem fazer parte do governo. Com a recusa do economista, são vistos como possíveis nomes os presidentes do Insper, Marcos Lisboa, e da Federação Brasileira dos Bancos, Murilo Portugal, ambos ex-secretários do Ministério da Fazenda. Lisboa, no entanto, já disse que não participaria desse eventual governo.
Também é cogitado o nome do economista Paulo Rabello de Castro para o Ministério da Fazenda. Um dos colaboradores do documento Ponte para o Futuro, programa econômico de Temer, o economista ainda não teve um encontro formal com o vice-presidente, mas os dois têm boa relação e ele não descartaria a possibilidade.
“Você não convida alguém para uma possibilidade, sem nem saber quando vai assumir. Claro que ele (Temer) está recebendo pessoas, sentindo disposição, mas nenhum convite foi feito. Nem será feito amanhã (hoje) ao Meirelles. As coisas estão caminhando e não há nenhum problema”, busca amenizar um interlocutor de Temer.
Na sexta-feira (22), perguntado se estava fazendo articulações políticas para definir nomes de uma eventual equipe de governo, Temer respondeu: “Eu estou ouvindo. Naturalmente que estou sendo procurado por muita gente. Estou ouvindo muita gente, mas apenas ouvindo.”
O grupo de Temer fala em dois nomes para o Ministério da Justiça: o dos ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, e da Justiça, Nelson Jobim. Ao GLOBO, Ayres Britto disse que nunca foi consultado sobre essa possibilidade. Mas que, apesar de ser amigo de Temer, não pretende voltar a ocupar cargos na administração pública. Já Jobim, ex-ministro dos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, apesar de ser considerado um bom quadro, não tem boa relação com o vice-presidente.
TUCANOS VEEM CONLITO DE INTERESSES
A proposta de que o PSDB feche questão contra a participação em cargos em eventual governo Temer foi feita na sexta pelo líder do partido no Senado, Cássio Cunha Lima (PB). O secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP), disse que haveria também “conflito de interesses” se o PSDB estivesse formalmente no governo. A sigla está com ação impetrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode resultar na impugnação da chapa Dilma/Temer.
Segundo Silvio Torres, o PSDB tem projeto com propostas próprias, derrotado em 2014, que será mantido para 2018. E que a ida de presidenciáveis — sejam do PSDB ou de outros partidos — para o ministério de Temer pode desequilibrar o jogo para 2018.
“Para conseguir o apoio de todos os partidos, Michel não pode levar presidenciáveis para sua equipe de ministros, senão desequilibra o jogo para 2018. Se insistir, vai ter que dar um ministério para o Serra, um para o Geraldo (Alckmin, governador de São Paulo), outro pro Beto Richa (governador do Paraná), para o Marconi (Perillo, governador de Goiás) e outro para o (senador) Aécio Neves. Ele não tem como acomodar todo mundo”, disse o secretário-geral do PSDB.
O governador de Mato Grosso, Pedro Taques, que ano passado trocou o PDT pelo PSDB, também se disse contrário ao partido assumir cargos em um governo de transição.
“Sou contra o PSDB ter cargos no provável governo Michel Temer. Sou da opinião de que podemos apoiar o governo Temer no Congresso Nacional, por meio de propostas que ajudem o país a superar este grave momento de sua História. Lutamos pelo impeachment, não podemos deixá-lo só”, disse Taques.
Por O Globo