A Paraíba é o terceiro Estado do Nordeste com o maior número de domicílios ligados à rede coletora de esgotos, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2015, divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A boa colocação, porém, não garante que muitas famílias, principalmente as que vivem na periferia, estejam livres das consequências que a falta do serviço acarreta. Quase metade dos domicílios do Estado, a exemplo da Comunidade do S, no bairro do Roger, em João Pessoa, não contam com rede coletora. Os moradores despejam as fezes diretamente no mangue e no rio. Resultado: convivem com o mau cheiro, proliferação de mosquitos, roedores, insetos e doenças.
É o caso da dona de casa Carla Cristina Batista, que mora há dez anos no local com o marido e dois filhos de 10 e 14 anos. Ela contou que a única forma de se livrar dos esgotos é despejando na maré. Um cano grosso é ligado à residência, segue pelo quintal da casa e, sem qualquer tipo de proteção, as fezes são despejadas. O pior, conforme a própria moradora, é que, com a cheia da maré, a água chega a invadir algumas casas. “Só não entra na minha cozinha, porque subi o piso, mas fica bem perto. Tenho a esperança de ver isso mudar”, disse.
A situação da catadora Lucicleide Silva é mais complicada. Sem banheiro em casa, ela relatou que faz as necessidades em sacos plásticos e descarta na área onde funcionou o antigo lixão. “Ninguém faz nada para resolver isso”, lamentou. Já a dona de casa Maria das Graças Silva foi realista: “Todo esgoto vai para a maré. Não tem jeito”, constatou.
Apesar de todos os riscos à saúde, há moradores que se alimentam de peixes retirados do rio poluído. Mauro Rodrigues disse que encontra tilápia, camurupim, entre outras espécies. “Como e nunca tive nada”, assegurou. Ele acrescentou que a comunidade conta com coleta de lixo três vezes por semana e as residências têm água encanada. Segundo o morador, o maior problema da comunidade é, de fato, a falta de saneamento.
CG tem o melhor sistema
Apesar dos números da Pnad, a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) informou que a taxa atual de cobertura de esgotamento sanitário é de 37,27%. Em João Pessoa, é de 73,28% e em Campina Grande, 87,55%, o melhor do Estado. Os dados, conforme a empresa, são do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), que é a fonte oficial para onde a Cagepa e todas as companhias de saneamento do País encaminham dados sobre abastecimento e esgotamento.
Do Correio Online