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domingo, 24 novembro 2024
                             

‘Era esperto, brincalhão’, diz amigo de infância sobre homem negro morto espancado em supermercado no RS

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Redação PB Vale
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João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado e morto por dois homens brancos em Porto Alegre. — Foto: Reprodução/Redes sociais.

“Ele era esperto, brincalhão, amigo para toda a hora”, diz André Gomes sobre João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado e morto por dois homens brancos em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na noite desta quinta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra. Os dois foram presos.

“Peguei meu celular agora de manhã e levei um choque. Éramos amigos desde a infância, nos criamos na mesma casa de religião, no batuque, na umbanda. Ele era tamboreiro. Estou fazendo 39 anos hoje, esse é meu presente”, conta.

João Beto, como era conhecido pelos amigos, vivia numa comunidade na Vila Farrapos, na Zona Norte da Capital. Ele foi agredido e morreu dentro de uma unidade do supermercado Carrefour. As imagens da agressão foram gravadas e circulam nas redes sociais.

“Um cara de boa”, define o amigo Paulão Paquetá, presidente da Associação de Moradores do Bairro Obirici. Os dois moravam a cerca de 200 metros de distância e se conheciam há mais de 10 anos.

“Um cara legal, estava sempre junto de nós. Gostava de sinuca e futebol. Torcia para o São José. Todo fim de semana fazia churrasco pro pessoal do bairro. Era de boa”, completa.

Segundo a polícia, tinha antecedentes criminais por violência doméstica, ameaça e porte ilegal de arma.

De acordo com o amigo, João Alberto trabalhava como soldador, na empresa do pai, e tinha esposa e uma enteada. “Ele era da torcida do São José. Sempre que tinha jogo, ele estava no jogo logo cedo”, diz.

Integrantes da torcida organizada do São Jose publicaram uma mensagem em homenagem a João Alberto. Veja o post:

“Na noite de hoje, Beto foi brutalmente espancado e assassinado por 2 seguranças do Carrefour Passo D’areia, há relatos que os seguranças bateram a cabeça dele no chão por diversas vezes e Beto clamava por socorro e pedia para respirar pois estavam trancando a respiração dele com os joelhos nas costas, bem na parte dos pulmões, infelizmente não resistiu a parada respiratória e acabou falecendo”.

Crime

Os dois suspeitos, um de 24 anos e outro de 30 anos, foram presos em flagrante. Um deles é policial militar e foi levado para um presídio militar. O outro é segurança da loja e está em um prédio da Polícia Civil. A investigação trata o crime como homicídio qualificado.

Os nomes dos seguranças presos foram confirmados pela Polícia Civil. São Magno Braz Borges, e Giovane Gaspar da Silva. De acordo com a Polícia Federal, um deles não possuía o registro nacional para atuar na profissão, mas não informou, no entanto, qual dos dois.

O advogado de Magno Braz, William Vacari Freitas, disse que não vai se posicionar sobre o caso, no momento. O G1 tenta contato com a defesa de Giovane.

O outro tinha o documento registrado. Segundo a nota da corporação, a carteira será suspensa. João Alberto foi espancado pelos dois, após um desentendimento.

Ambos são funcionários de uma empresa terceirizada, Vector Segurança. Em nota, a empresa disse que se sensibiliza com os familiares e está apurando os fatos. Veja nota completa abaixo.

A PF ainda confirma que a empresa de segurança responsável pelo supermercado tem cadastro regular e foi fiscalizada em agosto deste ano.

A Brigada Militar, como é chamada a Polícia Militar no Rio Grande do Sul, informou que o espancamento começou após um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do supermercado. A vítima teria ameaçado bater na funcionária, que chamou a segurança.

A PF ainda confirma que a empresa de segurança responsável pelo supermercado tem cadastro regular e foi fiscalizada recentemente.

O Carrefour informou, em nota, que lamenta profundamente o caso, que iniciou rigorosa apuração interna e tomou providências para que os responsáveis sejam punidos legalmente.

A rede, que atribuiu a agressão a seguranças, também chamou o ato de criminoso e anunciou o rompimento do contrato com a empresa que responde pelos funcionários agressores.

Também em nota, a Brigada Militar informou que o PM envolvido na agressão é “temporário” e estava fora do horário de trabalho.

Segundo o comunicado, as atribuições dele na corporação são limitadas à “execução de serviços internos, atividades administrativas e videomonitoramento” e “guarda externa de estabelecimentos penais e de prédios públicos”. A Brigada não informou o que ele fazia no mercado.

Homem morreu no local

João Alberto foi levado da área de caixas para a entrada da loja e teria, segundo apurou a Polícia Civil, iniciado a briga após dar um soco no PM. Na sequência, foi surrado.

O vídeo da agressão circula nas redes sociais desde o final da noite de quinta-feira. A polícia vai analisar as imagens do vídeo postado e também de câmeras de segurança do local.

Nas imagens que circulam nas redes, é possível ver dois homens vestindo roupa preta, o que aparenta ser o uniforme dos seguranças, dando socos no rosto da vítima, que já está no chão. Uma mulher que estava próxima deles parece filmar a ação dos agressores. Em seguida, já com sangue espalhado pelo chão, outras pessoas aparecem em volta do homem agredido, enquanto os dois agressores continuam tentando mobilizá-lo no chão.

Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) tentou reanimar o homem depois que ele foi espancado, mas ele morreu no local.

O crime está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Porto Alegre.

Nota do Grupo Vector

O Grupo Vector, através de seu advogado, vem a público informar que lamenta profundamente os fatos ocorridos na noite de 19/11/2020, se sensibiliza com os familiares da vítima e não tolera nenhum tipo de violência, especialmente as decorrentes de intolerância e discriminação.

Informa que todos seus colaboradores recebem treinamento adequado inerente as suas atividades, especialmente quanto à prática do respeito às diversidades, dignidade humana, garantias legais, liberdade de pensamento, ideologia política, bem como à diversidade racial e étnica.

A empresa já iniciou os procedimentos para apuração interna acerca dos fatos e tomará as medidas cabíveis, estando à disposição das autoridades e colaborando com as investigações para apuração da verdade.

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