O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, abriu a sessão desta quinta-feira (14/11) com uma fala sobre as explosões em frente à Corte na quarta-feira (13/11), quando um homem deitou sobre um explosivo e se matou. O discurso institucional de Barroso envolveu tom de pesar, lamento e reflexão. O ministro ressaltou que o ato de Francisco Wanderley Luiz é gravíssimo e se soma a uma série de fatos que ocorreram no país nos últimos anos.
Barroso questionou onde foi que o brasileiro se perdeu nesse “mundo de ódio, intolerância e golpismo”. “Onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência? Estamos importando mercadorias espiritualmente defeituosas de outros países que se desencontraram na história.” Em seguida, o magistrado elencou, cronologicamente, incidentes que atentaram contra a democracia e desrespeitaram as instituições que compõem a República. “Esse episódio de ontem se soma ao que já vinha ocorrendo no país nos últimos anos”, disse na Corte.
Veja a linha do tempo da fala de Barroso:
- Em fevereiro de 2021, um deputado divulgou um vídeo com discurso de ódio, ofensas e ameaças aos ministros do Supremo Tribunal Federal, num grau inimaginável de grosseria e incivilidade;
- Em outubro de 2022, um parlamentar, notório por esquemas variados, desrespeita ordem do STF e ataca os policiais federais com fuzis e granadas. Disse que era em nome da liberdade (caso Roberto Jefferson);
- Em outubro de 2022, uma parlamentar persegue, de arma em punho, um cidadão que havia se manifestado criticamente – em tom, aliás, muito menos grave do que aquele a que todos nós vínhamos sendo submetidos (caso Carla Zambelli);
- Ao longo dos meses de novembro e dezembro de 2022, após bloqueio de estradas, milhares de pessoas acamparam nas portas de quartéis por todo o país, pedindo desrespeito ao resultado das eleições e golpe de Estado. Muitos deles foram insuflados pela afirmação criminosamente mentirosa de que teria havido fraude nas eleições;
- No dia 8 de janeiro de 2023, milhares de pessoas, mancomunadas via redes sociais, e com a grave cumplicidade de autoridades, invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes da República;
- Relativamente a este último episódio, algumas pessoas foram da indignação à pena, procurando naturalizar o absurdo. Não veem que dão um incentivo para que o mesmo tipo de comportamento ocorra outras vezes. Querem perdoar sem antes sequer condenar.
Barroso ressaltou que “a gravidade do atentado desta quarta alerta para a preocupante realidade de que persiste no Brasil a ideia de aplacar e deslegitimar a democracia e suas instituições, numa perspectiva autoritária e não pluralista de exercício do poder, inspirada pela intolerância, pela violência e pela desinformação. Reforça também, e sobretudo, a necessidade de responsabilização de todos que atentem contra a democracia”.
“Onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência? Estamos importando mercadorias espiritualmente defeituosas de outros países que se desencontraram na história.”
Barroso ainda descreveu, ponto a ponto, o atentado:
- Por volta das 19h30 de quarta-feira (13/11/2024), um homem que já foi identificado (Francisco Wanderley Luiz) se aproximou com uma mochila e um extintor de incêndio da Estátua da Justiça, em frente ao STF, e jogou um pano na estátua;
- Diante da movimentação, um segurança do STF se aproximou para a abordagem. As imagens das câmeras de vigilância mostraram o momento em que o suspeito deixa a mochila no chão e recua, e mais agentes começam a se aproximar;
- O homem atirou, então, o primeiro artefato em direção à estátua, que não explodiu, e os agentes corajosamente começaram a cercá-lo. Ele arremessou um segundo artefato, que caiu mais perto da marquise do tribunal, e causou uma explosão. A equipe de segurança conseguiu evitar que o homem se aproximasse do Tribunal;
- Diante do cerco, esta pessoa acendeu mais um artefato, deitou-se sobre ele e houve uma segunda explosão – causando-lhe morte imediata. Depois disso, a Polícia Judicial fez o primeiro isolamento do local;
- Na sequência, a Polícia Militar e a Polícia Federal assumiram os trabalhos, em parceria com a equipe de segurança do STF, para averiguar outros artefatos que estavam na roupa do homem, na mochila e os que ele havia arremessado. Os trabalhos duraram toda a madrugada, e o corpo foi retirado às 9h desta quinta (14/11);
- Em uma coletiva de imprensa concedida no fim da manhã desta quinta, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, informou que o autor do atentado mantinha um grande número de explosivos na casa alugada por ele em Ceilândia, que foi alvo de operação policial;
- Uma gaveta, que felizmente foi aberta por um robô antibombas, gerou uma grande explosão. Ninguém se feriu, mas o episódio mostra o nível de periculosidade das pessoas com as quais estamos lidando.
Assim, o presidente do STF cumprimentou os agentes de segurança e da polícia judicial do Supremo Tribunal Federal pela atuação no caso, bem como a Polícia Federal e a Polícia do Distrito Federal, “pela presteza e pelo empenho com que trataram do assunto”.
Metrópoles