
RIAD — Depois de fortes rumores nas redes sociais, a Arábia Saudita anunciou nesta quinta-feira a morte do rei Abdullah, aos 90 anos, no trono desde 2005. Seu meio-irmão Salman bin Abdulaziz, de 78 anos, é o novo monarca. Desde 2011, Salman é ministro da Defesa e em 2012 foi designado príncipe herdeiro e vice-primeiro-ministro. Ontem, Salman nomeou Muqrin seu sucessor.
A morte do monarca saudita foi anunciada à tarde por uma TV libanesa, mas o governo saudita negou no Twitter que Abdullah estivesse morto. A confirmação veio horas mais tarde. O funeral acontece hoje.
“Sua alteza Salman bin Abdulaziz e todos os membros da família e da nação choram o Guardião das Duas Mesquitas Sagradas, o rei Abdullah bin Abdulaziz, que faleceu, exatamente, à 1h desta manhã”, informou a Corte.
O monarca — que teve pelo menos sete mulheres ao longo da vida e tinha quatro filhos ainda vivos, além de 15 filhas — passou por várias cirurgias ao longo dos últimos anos associadas a uma hérnia de disco. Abdullah fora internado em Riad, no último dia de 2014, para exames médicos após sofrer dificuldades respiratórias por conta de uma infecção. No dia 2 de janeiro, foi entubado às pressas para conseguir respirar devido a uma pneumonia. À época, a Corte informou que o procedimento havia sido bem-sucedido e o monarca tinha quadro estável.
Em 1962, Abdullah foi escolhido pelo rei Faiçal para comandar a Guarda Nacional, e em 1975 assumiu o cargo de vice-premier. Após a chegada do rei Fahd ao poder, em 1982, tornou-se o príncipe herdeiro, e nesta condição presidiu reuniões de Gabinete e governou o país como Guardião das Duas Mesquitas Sagradas — de Meca e Medina.
Preocupação nos mercados
O país é considerado um dos mais conservadores do mundo: todo o poder, em última instância, é da família real, que é apoiada por um amplo aparato teocrático formado por mesquitas conservadoras que deixam, em grande parte, os cidadãos marginalizados. Quando defensores de direitos humanos e da justiça social enviaram ao rei Abdullah uma petição, em 2003, pedindo um Parlamento eleito, limites de mandato para príncipes em cargos do governo e acesso do público às acusações dos detidos por terrorismo, a maioria dos signatários foi presa e nenhum de seus pedidos foi concedido pelo rei.
Apesar disso, Abdullah era considerado um modernizador: injetou bilhões de dólares no sistema educacional da Arábia Saudita, abriu a economia do país, inseriu-o na Organização Mundial do Comércio, limitou a autoridade da polícia religiosa e defendia a tolerância — ele se reuniu com o então Papa Bento XVI, em 2007. A Universidade de Ciência e Tecnologia que leva seu nome (KAUST, na sigla em inglês) é uma das principais instituições de ensino do mundo, e está localizada na Cidade Econômica, um megaprojeto na costa do Mar Vermelho, com um custo estimado de US$ 86 milhões.
A Arábia Saudita tem sido, especialmente desde o 11 de Setembro, um dos principais aliados do Ocidente na luta contra movimentos jihadistas como o Estado Islâmico e a al-Qaeda, e serviu de base de treinamento para rebeldes sírios consideradores “moderados” que lutam contra o governo de Bashar al-Assad na Guerra Civil da Síria.
O maior inimigo da monarquia saudita é a República Islâmica do Irã, centro do pensamento xiita. A disputa entre os dois países ajuda a explicar, por exemplo, a divisão do mundo muçulmano na questão Síria: os iranianos apoiam o alauíta Assad ( um tipo de xiismo) enquanto os sauditas apoiam os sunitas que lutam contra as tropas leais ao regime.
Atrás apenas do rei Bhumibol da Tailândia e do sultão do Brunei, Abdullah era o terceiro chefe de Estado mais rico do planeta, com uma fortuna estimada em US$ 18,5 bilhões. Há meses, sua saúde vinha sendo acompanhada de perto pelos mercados, já que o país é um dos maiores produtores e exportadores mundiais de petróleo.
Da redação, com O Globo