O Japão vem sendo castigado por chuvas intensas há dias, autoridades japonesas ainda contabilizam o número de mortos, que já chega a quase 200. AS equipes de resgate buscam mais de 60 pessoas levadas pela enxurrada de água e lama que atingiu 15 Províncias da região oeste do Japão.
Apesar disso, a morte de Edualdo Ogata, de 53 anos, não entra nessa contagem, mesmo que a sua morte tenha sido indiretamente decorrente da calamidade, noticia o G1.
O paulista que morava no bairro de Aki, em Hiroshima, teve um infarto possivelmente na madrugada do dia 7, enquanto a esposa e os dois filhos tentavam retornar de carro à residência, driblando ruas alagadas e estradas desmoronadas.
Marcela Tiemi Campos Saimi, de 36 anos, apenas conseguiu rever o marido dois dias depois, já como viúva.
Diversos fatores culminaram para o desfecho trágico desta família. A mulher costumava chegar do trabalho sempre por volta das 18h e o marido, às 21h. No entanto, no dia 6, uma sexta-feira, tudo foi diferente, já que uma faixa extensa do Japão tinha sido atingida por chuva recorde que fez montanhas cederem e rios transbordarem.
Com os dois filhos no carro – o caçula, de 9 anos, estava em estado febril. Mesmo com pressa, se deparou com barreiras nas ruas próximas ao apartamento onde mora. O rio Seno havia transbordado.
Marcela conversou com o marido por telefone e o acordo foi que seria melhor levar as crianças de volta à casa da irmã dela, que fica nas proximidades. O telefonema à 1h49 foi o último entre eles.
Com o filho cada vez mais debilitado, Marcela precisou chamar a ambulância. Tentou falar diversas vezes com o marido sobre isso por telefone, mas sem sucesso. O garoto estava com apendicite e acabou passando por uma cirurgia.
“Nove anos atrás, ele passou por uma cirurgia por obstrução da veia e tomava remédio para o coração uma vez ao dia. Por esse histórico, tive medo, mas procurei não pensar em nada, tinha de correr com o menino para o hospital”, diz Marcela.
Já preocupada com o silêncio de Edualdo, Marcela pediu a amigos da filha de 16 anos para irem ao apartamento. Foi quando encontraram a porta destrancada, as luzes acesas, o ar-condicionado ligado e o corpo de Edualdo inerte. Foi desta forma que teve de ficar por dois dias, até a chegada da equipe médica para a autópsia.
“Deixei meu filho no hospital e fui ao apartamento com minha menina ver o corpo. Tive de buscar forças não sei onde para tentar acalmá-la. Eu não posso chorar. Tenho que ser forte, mas não está dando”, lamenta a brasileira.
O corpo foi velado e cremado na terça-feira (10). As cinzas devem ser levadas para o Brasil, onde a mãe de Edualdo aguarda há 35 anos a volta do filho. Desde que veio ao Japão trabalhar em fábricas, ele nunca tinha retornado à terra natal.