
“Novo comandante assume o Glorioso já nesta quarta-feira, no lugar de Maurício Assumpção, e tem pela frente árdua missão tanto dentro quanto fora dos gramados”
Se não tem sido exatamente um herói em cada jogo, em uma terrível campanha que pode acabar rebaixado, o Botafogo ao menos escolheu, nesta terça-feira, o presidente que tentará conduzir sua Estrela Solitária de volta à estrada dos louros. Com 442 votos, caberá a Carlos Eduardo Pereira, da chapa Chapa Ouro “Oposição Unida”, o imenso prazer – e também a enorme responsabilidade – de dirigir o Glorioso no triênio 2015/16/17 em um cenário de grande dívidas e problemas, no futebol e noutros esportes. O novo comandante substitui Maurício Assumpção, que deixa o cargo melancolicamente, sem ter construído uma candidatura de situação, apoiado um dos concorrentes ou, mesmo, comparecido ao clube para acompanhar a eleição de seu sucessor.
– É uma responsabilidade muito grande. Esses eleições passaram uma mensagem muito importante, que nós precisamos unir o clube. Não vamos deixar que toda essa mobilização dos botafoguenses seja perdida. Todos os botafoguenses têm que ter consciência de que 2015 vai ser um ano muito difícil e por isso precisamos do apoio de todos. Estamos orgulhosos, mas cientes da nossa responsabilidade. E com a certeza de que vamos lutar para não causar nenhum tipo de decepção – disse Carlos Eduardo Pereira, em sua primeira entrevista como novo presidente do Botafogo, já na madrugada desta quarta-feira.
No total, 1.225 sócios sócios participaram do pleito na sede de General Severiano, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Além dos 442 votos para o candidato vencedor, 347 foram para Thiago Alvim, da Chapa Azul “Por Amor ao Botafogo”, o segundo colocado. Marcelo Guimarães (Chapa Cinza “Grande Salto”) ficou na terceira posição, com 234. Em quarto e último lugar, aparece Vinícius Assumpção (Chapa Alvinegra “Vinicius Presidente”), com 200. Houve ainda dois votos nulos.
E Carlos Eduardo mal terá tempo para comemorar a vitória nas urnas. O novo presidente do Botafogo assume o cargo já nesta quarta-feira e passará a ser alvo de cobranças para recolocar o Botafogo em seu rumo, principalmente no aspecto financeiro, e, assim, reconstruir uma imagem danificada dentro de fora de campo.
De aliado a adversário ferrenho de Maurício Assumpção

Carlos Eduardo Pereira será presidente do Botafogo pela primeira vez. Mas, ao contrário do antecessor Maurício Assumpção – que chegou em 2008 como uma cara totalmente nova no clube -, está longe de ser um novato na política alvinegra. E não somente por ter concorrido ao posto pela segunda vez. Aos 56 anos, o profissional da área de marketing e morador da cidade de Petrópolis (RJ) está inserido no dia a dia botafoguense há mais de duas décadas.
Quando o Botafogo conquistou o título da Copa Conmebol, em 1993, Carlos Eduardo era vice-presidente administrativo. Desde então, é voz ativa nas reuniões de conselheiros do clube e sua atuação tem sido marcante, principalmente nos seis anos da gestão de Maurício Assumpção. Inicialmente integrante do grupo que conduziu o presidente, a partir de 2009 ele fez parte da ala que rompeu com o mandatário, cerca de seis meses depois. A partir de então, passou a ser um ferrenho opositor. A briga pelas suas causas também é capaz de transformá-lo. Cordial e de fala tranquila, foi visto algumas vezes em ásperas discussões – principalmente com Assumpção – em reuniões do Conselho Deliberativo.
As desavenças, entretanto, não impediram Carlos Eduardo de atender o telefone pouco depois do fim da apuração. Maurício ligou para o celular de Gustavo Noronha, integrante da Chapa Ouro, e pediu para falar com seu sucessor, com êxito. O agora ex-presidente solicitou permissão para ir ao treino do Botafogo nesta quarta de manhã, e foi prontamente atendido.
Na terceira urna, o início da festa da Chapa Ouro
Favorito nas pesquisas durante o dia, Carlos Eduardo Pereira abriu boa vantagem logo na primeira das quatro urnas. Na segunda, Thiago Alvim tirou discretamente a diferença. Porém, foi na terceira que veio a certeza da vitória, quando a apuração apontou 331 votos a 250.
Enquanto Carlos Augusto Montenegro, principal apoiador de Thiago Alvim, deixava o clube vencido pelo cansaço de um dia inteiro de atividades, os correligionários de Carlos Eduardo começaram a comemorar. Primeiro, discretamente. Pouco depois, de forma mais efusiva, com direito a xingamentos a Maurício Assumpção.
Marcelo Guimarães e Vinicius Assumpção foram os primeiros a cumprimentar o já virtual presidente. Nada mais havia a fazer. “Já era”, lamentou Thiago Alvim, sem acreditar em virada na última urna. No salão nobre, botafoguenses cantavam o hino. Carlos Eduardo já não podia mais perder, perder para ninguém. Era o fim de um longo dia – e o início de uma jornada ainda mais longa.
Apesar de pequenas discussões, um início tranquilo
O iminente rebaixamento não influenciou de maneira negativa a eleição em General Severiano. Nas três primeiras horas de votação, o clima foi bastante cordial, interrompido apenas por dois contratempos: o primeiro ocorreu logo no início. Irritados com atraso que não chegava a 10 minutos, eleitores começaram a protestar (veja vídeo acima). José Luiz Rolim, presidente do Conselho Deliberativo, foi à fila e encerrou o bate-boca: “Já protestaram, houve o desabafo, agora vamos votar”. O outro entrevero deu-se às 11h30, quando um torcedor solitário posicionou-se em frente à sede e disparou impropérios contra Maurício Assumpção, Vagner Mancini e os jogadores.
Carlos Eduardo foi o último a chegar ao clube. Em contrapartida, votou antes que seus três adversários. O segundo a depositar sua cédula em uma das quatro urnas foi Vinícius Assumpção, sendo seguido por Marcelo Guimarães e Thiago Cesário Alvim. Na boca de urna, Carlos Eduardo e Vinicius Assumpção se revezaram na liderança pela manhã. Amarildo, Carlos Alberto Torres e outros ídolos marcaram presença.
Entre materiais de campanha, um adesivo chamou a atenção: o que trazia o rosto de Assumpção, com os dizeres “Adeus, Maurício #piorpresidentedahistória”.
Corrida pelos últimos votos
O movimento de sócios em General Severiano aumentou bastante nas duas últimas horas de votação. Enquanto os quatro candidatos à presidência do Botafogo (Thiago Alvim, Vinícius Assumpção, Marcelo Guimarães e Carlos Eduardo Pereira) posavam juntos para uma foto em frente à sede alvinegra, pessoas se dirigiam às urnas para participar da eleição e escolher quem seria o sucessor de Maurício Assumpção. Com um colégio eleitoral reduzido, qualquer voto a mais poderia ser decisivo.
Por Fred Gomes, Gustavo Rotstein e Sofia Miranda *Rio de Janeiro
Globo Esporte