Autoridades russas reconheceram publicamente, pela primeira vez, que houve uma “conspiração institucional” no país para fomentar um amplo esquema de dopagem.
Em entrevista ao jornal “The New York Times”, a diretora-geral da agência antidoping russa, Anna Antseliovich, definiu com essas palavras o programa sistemático de fornecimento de substâncias ilícitas a atletas -que foi trazido à tona em investigações promovidas pela Wada (Agência Mundial Antidoping).
De acordo com apurações de uma comissão independente constituída pela Wada e outras feitas pelo professor Richard McLaren, autoridades, atletas, técnicos, membros do serviço secreto, laboratórios e médicos atuaram em conluio para burlar regras antidoping e obter medalhas, sobretudo, na Universíade de Kazan, em 2013, no Mundial de atletismo de Moscou, também em 2013, e nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em 2014.
O esquema gigantesco teria envolvido um número superior a 1.000 atletas de mais de 30 modalidades.
Segundo o “The New York Times”, a mudança no tom promovida pelos russos tem a ver com um desejo de se reconciliar com entidades esportivas internacionais.Vale lembrar que o atletismo do país foi barrado dos Jogos Olímpicos do Rio pela IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo), e inúmeros atletas de outras modalidades também tiveram suas participações vetadas -a Rússia também foi banida dos Jogos Paraolímpicos do Rio.
Desde que o caso estourou, em dezembro de 2015, toda a cúpula do combate antidoping na Rússia foi substituída. Anna Antseliovich, que faz parte da nova safra de dirigentes do país e não está sendo investigada, quer melhorar as relações, principalmente com o COI (Comitê Olímpico Internacional).Apesar de agora admitir que o esquema existiu, as autoridades russas rechaçam que houve patrocínio do Estado russo -em significado, do presidente Vladimir Putin e seus assessores mais próximos.
Vitali Smirnov, que foi indicado neste ano por Putin para reformar o sistema antidoping no país, disse: “cometemos muitos erros”. Porém, “não quis falar sobre responsáveis”.
Smirnov também foi ministro do Esporte do país. A pasta é de onde, segundo a Wada, partiu boa parte das orientações para implementar o esquema.”Temos de encontrar as razões pelas quais jovens esportistas têm se dopado, por que eles concordam em se dopar”, disse o dirigente, que ao mesmo tempo em que reconheceu o esquema de dopagem sugeriu que o consumo de substâncias ilícitas está disseminado por todo o esporte mundial.
Ele também argumentou a Rússia não contou com a mesma complacência oferecida a outras nações no que diz respeito a indícios de esquemas de dopagem em funcionamento.
Com informações da Folhapress