A vida política local não acaba com a escolha do prefeito e dos vereadores. Na verdade, ela começa com essa decisão do eleitor, que só vai ser plenamente cidadão caso continue participando do processo político de sua cidade.
Na história brasileira, a defesa do municipalismo foi muitas vezes atrapalhada pelo mandonismo e suas facetas.
Uma delas é a dos coronéis, que exerciam o poder pela mistura da força e da “doçura”, dominando as prefeituras de forma direta ou por meio dos familiares.
Mas algumas coisas mudaram nos municípios desde a Constituição de 1988. A conquista de maior autonomia e a descentralização federativa tornaram os governos locais mais importantes para os cidadãos.
Vive-se hoje, no Brasil, uma combinação de estruturas arcaicas e modernas de governança. Isso aparece na eleição a vereador, por exemplo.
A lista dos parlamentares escolhidos para o Legislativo das cidades mostra claramente a existência de políticos ligados a causas e/ou métodos novos de se fazer política convivendo com aqueles eleitos pelo modus operandi clientelista. E se cada um em sua cidade fizer a conta direitinho, verá que a maioria ainda pende para o modelo tradicional.
Há muitos aspectos a analisar depois do resultado das eleições 2016. Mas, inequivocamente, estamos diante de uma reorganização das forças políticas brasileiras. Mesmo que a renovação não tenha ocorrido na proporção em que muitos esperavam, o eleitor não deixou de procurar um novo tipo de liderança. Ou, ao menos, deu claros sinais dessa vontade.
O cidadão, mesmo quando votou em nomes mais conhecidos, parece ter adotado critérios que o aproximassem do escolhido. Foi uma disputa muito mais racional do que em outras oportunidades, fruto também da descrença generalizada.
O voto partidário, definitivamente, sofreu uma derrocada. Votou-se mais contra partidos do que a favor de algum deles.
O que vem pela frente é o que será o grande desafio dos vencedores. Os municípios terão muitas dificuldades com a queda de arrecadação e a progressiva concentração do bolo tributário.
As prefeituras são os entes governamentais mais próximos do cidadão. São elas que mais fazem, e normalmente com mais rapidez e probidade.
Precisamos mudar justamente a regra do jogo. Caso contrário, continuaremos lançando líderes de expressão e bons gestores municipais ao cadafalso das impossibilidades da gestão pública nas cidades. Claro que ainda muito pode ser feito, mesmo diante de tamanhas carências, mas não se pode perder a luta de fundo.
Fazer bons governos locais é importante, mas continuar lutando pelas grandes reformas nacionais e a forma de se fazer “política” é mais importante ainda.
Por Lenilson Balla