É isso mesmo, vou vender minha televisão, usada, mas, seminova. Quando eu era menino – ainda me lembro – na casa de meus pais não tinha televisão (nem sequer um rádio), e isso nunca me incomodou. Aliás, as famílias daquela época não tinham televisão. Hoje, nesses tempos ditos modernos, a ausência dela pode até incomodar, porém, a mim, duvido que incomode mais que a sua presença.
De tão incomodado com a dita cuja, ultimamente venho matutando, matutando, até que cheguei à seguinte conclusão: pra que danado eu vou querer mais em minha casa, com a idade avançada que eu estou, um troço que só lembra o que não presta?
Basta de tanto incômodo. Ora! Se eu já vivo o tempo todo com medo, só saio da minha casa à força (porque é o jeito), mas saio com medo e sem saber se volto, pois, a vida não está de brincadeira, principalmente para os inocentes.
Quando chego de volta à intimidade do meu lar, como sempre acontece após o meio dia, dou graças a Deus por ter chegado são e salvo, ligo a televisão, o que, infelizmente, já virou costume, aí começa o verdadeiro inferno:
…é o país afundando, a Petrobrás despencando, a violência aumentando, o vírus nos perturbando, casais se digladiando, famílias se esfacelando, duas velhas se beijando, eleição se aproximando, políticos confabulando, muitos deles só roubando, empresários ajudando, parece até que estou vendo esse mundo se acabando!
Pronto… Foi aí que eu matutei, matutei e concluí:
Se existe aquela estória de um pobre coitado, que ao chegar de volta em casa, encontrou sua mulher deitada com outro no sofá, fazendo o que não presta, e a alternativa que ele encontrou foi vender o sofá, então, no meu caso, só me resta vender a televisão.
Por Sebastião Gerbase (Basinho)