Comemoração dos jogadores do Flamengo (Foto: André Durão / GloboEsporte.com)

Na última quarta-feira (23) completou-se a final da edição 2019 da Taça Libertadores da América, River Plate (ARG) e Flamengo (BRA). O River garantiu a sua vaga mesmo perdendo por 1 a 0 para o maior rival, Boca Júniors, classificando-se pelo placar agregado de 2 a 1, já que havia vencido o jogo de ida por 2 a 0. O Flamengo venceu de forma contundente o Grêmio por 5 a 0, fechando 6 a 1 no agregado, pois o jogo de ida foi 1 a 1.

O jogo de quarta foi chamado por toda a imprensa brasileira como o “Jogo do Ano”, pelo fato do futebol competitivo, bem jogado  e um trabalho vitorioso de um pouco mais de três anos do Grêmio de Renato Gaúcho e o futebol de alto investimento, encantador, veloz, de alta intensidade e de pouco tempo de trabalho do Flamengo de Jorge Jesus. Realmente foi um grande jogo.

O Grêmio com uma escalação mais cautelosa, pois jogou com Paulo Miranda na lateral direita para aumentar o poder de marcação do time, escalou também André no comando de ataque, considerado por muitos analistas um equívoco de seu treinador, mas devemos entender que o Grêmio perdeu dois titulares, Luan e Jean Pierre, e não possui peças de reposição a altura para essas perdas.

O Flamengo ousou ao colocar dois jogadores importantes vindos de contusão e cirurgia, como Rafinha que passou por uma cirurgia facial devido a fratura que teve no rosto em decorrência de um choque com o jogador Rony do Athlético-PR e De Arrascaeta, que passou por uma artroscopia no joelho, essa ousadia, característica de seu treinador, resultou na manutenção do volume de jogo apresentado na noite de quarta.

O primeiro tempo vimos um jogo equilibrado, com uma pequena vantagem para o Grêmio, tendo inclusive uma chance real numa jogada de Everton Cebolinha, que quase resultou em gol, não acontecendo graças a cobertura de Filipe Luís, que impediu de Maicon de empurrar a bola para dentro, mas a partir dos 25, 30 minutos do primeiro tempo, já começamos a ver o Flamengo tomar conta do jogo, sendo premiado com um gol no fim desse tempo.

O segundo tempo inicia com uma blitz da equipe do Flamengo resultando no segundo gol logo no início, deixando visivelmente a equipe do Grêmio abalada, não demorando para encaixar o terceiro de pênalti, o quarto e o quinto de cabeça, sacramentando o resultado com o cronômetro marcando ainda 25 minutos do 2° tempo. O atropelo proporcionado pelo Flamengo tem muito haver com a forma que o time joga, com a intensidade aplicada e, quando a marcação adversária não encaixa e nem consegue agredir ofensivamente, o Flamengo vai para cima, esmaga, atropela e constrói o resultado.

O Grêmio entrou com uma proposta bem clara e funcionou até meados do 1° tempo, com uma marcação encaixada, não deixando o Flamengo jogar, levou perigo, mas a partir do instante que o Flamengo começou a se desvencilhar da marcação as jogadas começaram a surgir e os perigos a meta de Paulo Victor começaram a acontecer. Quando o Grêmio perde a bola no meio-campo, numa bola mal passada e uma roubada de bola de Everton Ribeiro, arma um contra-ataque com Bruno Henrique, que carrega a bola até a intermediária gremista, enfia uma bola açucarada para Gabriel finalizar e se apresenta para o rebote. Gabriel chuta, o goleiro rebate e, na minha opinião rebateu mal, mesmo para o lado, como manda o livro, mas a bola sobrou e Bruno Henrique empurrou para as redes adversária aos 41 minutos do primeiro tempo, sendo um balde de água fria na estratégia de Renato, até então funcionando.

Na volta do intervalo, o Flamengo surpreende, inclusive ao mais fanático torcedor, uma blitz, uma pressão inicial no segundo tempo, a surpresa consiste em que essa pressão é feita normalmente no início da primeira etapa, mas como não havia sido possível graças a marcação imposta pelo Grêmio, essa pressão passou para a segunda etapa, aproveitando-se de um momento de desconcentração do Grêmio, pressionou e numa cobrança de escanteio, numa falha de cobertura, faz o 2° gol com 1 minuto do 2° tempo, aos 10 minutos marca o 3° de pênalti, isso desmontou o Grêmio, que não conseguia mais se aproximar da meta de Diego Alves. Esse domínio evidente do Flamengo resultou em mais dois gols, 4° de Marí aos 21 e o 5° com Rodrigo Caio aos 25. Passeio consolidado e domínio mantido, só restou ao Grêmio acertar um único chute perigoso, com cebolinha e com uma bela defesa de Diego Alves.

Com um investimento de 100 milhões de reais na contratação de oito dos 11 titulares, o Flamengo com Jorge Jesus chega a esta final com extrema justiça e competência, com um futebol vistoso, comprovando que dá para ter resultado sem precisar abrir mão da qualidade, com a questão de poupar ou não os jogadores, mostra que é possível jogar em alto nível com todos os jogadores sempre. O planejamento, que no início pareceu confuso com Abel Braga, hoje mostra-se qualificado e bem feito a partir da chegada de Jorge Jesus. Por sinal, o Jorge Jesus tem dado uma aula aos treinadores brasileiros e, espero que a lição seja aprendida, para o bem de nosso futebol.

O Grêmio, não podemos tratar agora como terra arrasada após a derrota, o time não vem jogando bem, vem oscilando bastante durante a temporada, lembrem-se a dificuldade que foi classificar na fase de grupos, o que precisa ser feito é uma reavaliação, uma autocrítica, inclusive da parte de Renato Gaúcho, alguns ciclos precisam ser encerrados, como o de Léo Moura, André já demonstrou que não tem compromisso para jogar em alto nível, Paulo Victor é um excelente goleiro reserva, bastante inseguro e vem sentindo a pressão em jogos decisivos, na zaga já precisa pensar em alternativas do mesmo nível de Geromel e Kanneman. Mas o trabalho não pode ser ignorado, são um pouco mais de três anos, com três semifinais consecutivas de Libertadores, dois títulos de peso, uma Copa do Brasil e uma Taça Libertadores, dois Gaúchos, com um futebol de muita qualidade, com a bola no pé, ofensivo e rápido, mas não foi capaz de segurar o Flamengo, muito em virtude com o fato de não ter a sua disposição os melhores no jogo de quarta.

Que venha o River Plate, outro grande adversário, de um trabalho a longo prazo e com resultados impressionantes, em cinco temporadas com o treinador Gallardo, são uma Sul-Americana, quatro semifinais consecutivas da Libertadores, duas Taças Libertadores, três Recopas Sul-Americanas, uma Copa Suruga, duas Copas Argentinas, uma Super Copa Argentina, uma Super Copa Euro-Americana, resultando em 11 títulos nesse período, não só pela tradição, mas por tudo que construiu nesses cinco anos, num adversário de peso, que jogará de igual para igual com o Flamengo.

Por Thales Carneiro