Há cada dia que passa, me surpreende cada vez mais, o imediatismo e a opinião tendenciosa que a imprensa esportiva brasileira vem tratando a edição deste ano do Campeonato Brasileiro.
Quem acompanha futebol e, consequentemente, os programas esportivos existente a disposição para assistirmos, desde o Grupo Globo, com os programas esportivos disponíveis nos canais SporTV, passando pela ESPN, FOXSPORTS, BAND e BANSPORTS, viam, antes da parada para a Copa América, estes programas apontarem para o até então invicto Palmeiras com o campeão 2019. Time vinha com mais de 30 jogos de invencibilidade, uma defesa sólida que não tomava gols e um ataque eficiente, que contava com um treinador que havia calado a boca dos críticos ao conquistar a edição 2018 do campeonato, que estava nos braços do povo.
Passou a Copa América, o brasileirão recomeçou, o Palmeiras foi eliminado da Copa do Brasil, foi eliminado da Libertadores, viu sua liderança sólida desabar, chegando a perde-la para o Flamengo que estava a 8 pontos atrás. Resultado, Felipão deixou de ser unanimidade, o time entrou em crise, o treinador foi demitido, a torcida abriu guerra com o diretor Alexandre Mattos e hoje encontra-se a 8 pontos do líder Flamengo.
O engraçado disso tudo é que a mesma imprensa que elegia o Palmeiras campeão absoluto com apenas 8 rodadas disputadas, é a imprensa que criticou, só faltou deportar de volta para Portugal Jorge Jesus após a eliminação da Copa do Brasil e após o 1º jogo das oitavas contra o Emelec, dizendo que o treinador inventou, apontando diversos erros.
Essa mesma imprensa hoje já crava o Flamengo campeão Brasileiro 2019 (não falarei aqui o número de títulos porque não considero o Flamengo Campeão Brasileiro de 1987) desde que o Flamengo ultrapassou o Palmeiras na pontuação. Realmente hoje, 14 de outubro de 2019, o Flamengo é o time que pratica o futebol mais vistoso do país, ao lado de times como o Grêmio, o Atlhético, o Santos e o Bahia, lembrando que não estou falando em resultado e sim em futebol praticado.
A torcida flamenguista tem todas as razões para estarem gritando aos quatro cantos do Brasil “Segue o Líder”, mas esse não é o papel da imprensa, do jornalista, o papel da crônica esportiva é analisar, é ponderar e, até mesmo especular, mas com responsabilidade e não com parcialidade, muitas vezes as análises são levadas em conta muito mais a paixão pelo time analisado do que a análise em si.
Eu seria um louco se afirmasse que o Flamengo não é o principal favorito ao título. Tem jogado bem, tem alcançado os resultados e seus concorrentes diretos tem tropeçado nas próprias pernas. O caminho é o título, mas como já dizia um grande cronista esportivo, um estudioso do futebol, um grande intelectual, Armando Nogueira, considerado por muitos um mestre do jornalismo esportivo brasileiro, ele dizia que “… o futebol possui razões que a própria razão desconhece…”.
Futebol é o único esporte coletivo em que o melhor nem sempre vence, o imponderável e a imprevisibilidade estão sempre presentes, é onde o “se” pode acontecer e porque digo isso, é pessimismo, não, isso se chama cautela, pois ainda estamos terminando a rodada 25, restam 13 rodadas, são 39 pontos em disputa, existem os confrontos diretos com os clubes que disputam o título, existem os confrontos com aqueles que estão lutando pela fuga do rebaixamento, que se tornam jogos complicados, existe o jogo de volta contra o Grêmio na Libertadores, onde o resultado pode impactar positivamente ou negativamente, o resultado está em aberto e ninguém pode cravar nada, apenas que será um grande jogo, são muitas variáveis, quem é cultuado hoje amanhã pode se tornar bode expiatório de um fracasso amanhã.
Lembrem-se que o Flamengo já esteve 8 pontos atrás e um revés não é impossível, mas o que joga a favor é que os postulantes ao título não estão oferecendo um futebol confiável, enquanto o Flamengo engata uma sequência de bons resultados, os outros tropeçam em suas próprias pernas, mas tudo pode mudar.
Confirmando o título, ele estará entregue nas mãos de um time que tem, a partir de seu treinador, um futebol envolvente e ofensivo, dinâmico com uma intensidade incrível. Que além do título, espero que o Flamengo de Jorge Jesus ensine ao futebol brasileiro como sair da mesmice futebolística que nos metemos. Mas lembrem-se que no futebol pode acontecer de tudo, inclusive nada.
Por Thales Carneiro